Desilusão

Foste durante uma longa jornada
toda a razão de ser da minha vida,
fruto de uma paixão desenfreada
que eu jamais esperei fosse vivida...

Até quando uma coisa inesperada
veio de tal forma tão atrevida,
desmonorou tudo, sem deixar nada,
só uma grande desilusão sofrida...

Sentindo hoje uma saudade infinda
de tempos que nunca mais vão voltar
e que machuca muito mais ainda...

Quando de longe te vejo passar
no ponto mais alto de uma berlinda
tal imagem qualquer posta num altar.

UMA OBRA DE REI

Alceli Sobreira*26/03/1938 +07/02/2009

"A felicidade aparece para aqueles que choram. Para aqueles que se machucam. Para aqueles que buscam e tentam sempre. E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas"...(Clarice Lispector)

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Alceli Sobreira na redação dos estúdios da Rádio Piratininga de São Paulo (Novembro de 1966).

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*** Alceli Sobreira por Chagas Lima

Alceli Sobreira nasceu na cidade do Crato, no dia 26 de março de 1938. Iniciou sua carreira profissional em 1954, na Radio Iracema de Juazeiro do Norte, antes teve uma rápida passagem no Centro Regional de Publicidade (CRP), ao lado de Dário Maia Coimbra, seu irmão Mascote (ambos já falecidos), João Barbosa, Pedro Duarte e de tantos outros. “Aprendi muito. Foi o que me fez vencer na vida”, disse certa vez Alceli Sobreira. Depois de trabalhar longo período na Rádio Iracema Alceli se transferiu para a Rádio Araripe do Crato, inaugurando posteriormente, a Rádio Educadora do Cariri. Em seguida, trabalhou na Rádio Difusora de Cajazeiras/PB e Rádio Tupinambá de Sobral.
Alceli Sobreira trabalhou também na Rádio Piratininga de são Paulo, onde foi redator-chefe da emissora. “Foi uma época maravilhosa, onde tive a oportunidade de ampliar os meus conhecimentos jornalísticos em todos os aspectos”, diz Alceli Sobreira. Depois de certo período em são Paulo, teve que voltar às pressas a Juazeiro, em virtude do falecimento do seu Filho Eduardo Menezes, de onde não mais saiu, apesar dos inúmeros convites que recebeu para retornar. Ele formou então com Assis Ferreira (Escurinho), a dupla Xexéu e Cajarana, apresentando o programa humorístico Coluna da Hora, de segunda à sexta-feira, ao meio dia, criticando ou elogiando, quando preciso, as ações não só da administração municipal, mas também de instituições de um modo geral.
“Eram textos elaborados de acordo com cartas que recebíamos da população, principalmente, de pessoas residentes nos bairros da periferia, referindo-se as dificuldades de cada localidade. Um dos prefeitos da época costumava dizer que Eu (interpretando Xexéu) e Escurinho, fazendo o Cajarana, éramos uma espécie de fiscais da prefeitura, porque mostrávamos os problemas existentes na cidade e, ao mesmo tempo, apresentávamos sugestões, para solucioná-los”, recordava Alceli, que exerceu também os cargos de Assessor de Imprensa e de Secretário de Finanças do Município, durante a gestão do ex-prefeito Ailton Gomes de Alencar (1977-1982). No ano de 1984 – depois de passar um período como diretor-administrativo da Rádio Iracema, depois do falecimento de Coelho Alves, ocorrido em novembro de 1982, Alceli Sobreira ingressou na Rádio Vale do Cariri AM, assumindo a direção do Departamento de Jornalismo, buscando acima de tudo, orientar jornalisticamente, os colegas mais jovens. “Minha passagem por lá é uma coisa que não esqueço”, dizia emocionado.
No ano de 1985 o repórter Hermano Henning (ex-Globo), hoje no SBT, chegou a fazer testes na Rádio Piratininga/SP para redator, sendo reprovado. Muitos anos depois (1985), Hermano Henning veio a Juazeiro, já como repórter da TV Globo acompanhando o cantor Nelson Gonçalves (de saudosa memória), fazendo cobertura de seus shows por todo o Brasil, para o Programa Globo Repórter. Alceli então se encontrou com ele na residência do empresário Raimundo Ferreira e recordou de Alceli Sobreira em São Paulo, quando ele (Hermano Henning), estava começando profissionalmente.

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Alceli Sobreira é considerado um dos nomes mais brilhantes da radiofonia juazeirense e cearense. Foi na Rádio Iracema que sedimentou sua vida radiofônica. Nela foi locutor e redator de notícias, radioator, cronista e disck jockey, sendo sucesso em tudo que fez. Foi também jornalista com participação em muitos jornais locais. Fez muito sucesso como apresentador de programa de auditório, especialmente o Domingo Alegre, apresentado no Cine Eldorado e sempre lotado. Certa vez, o famoso humorista coronel Ludugero veio se apresentar em Juazeiro com seu assistente Otrope, e como este adoeceu foi Alceli quem o substituiu, recebendo depois elogios de Ludugero pelo seu esmerado desempenho. Além de Juazeiro ele trabalhou em emissoras de Fortaleza e São Paulo. Mais do que um locutor, Alceli é uma grande referência no nosso rádio. Foi um radialista completo. Poliglota, bom redator e portador de uma voz vibrante e forte que dava gosto ouvir.

A RÁDIO IRACEMA
Alceli Sobreira iniciou sua carreira na Rádio Iracema de Juazeiro do Norte na década de 50- A Pioneiríssima que foi inaugurada no dia 15 de novembro de 1951 deu início a uma revolução na rádio difusão de nossa região. Na festa de inauguração Monsenhor Lima abençoou os transmissores as 9hs da manhã daquela que então nascia como Rádio Iracema. A rádio contou com as apresentações de Nelson Gonçalves e Luiz Gonzaga, o que tornou a festa ainda mais bonita.

IDÉIAS - O PAPEL DO RADIALISTA
(Matéria escrita pelo radialista Alceli Sobreira e publicada no jornal Diário do Nordeste)

O advento do rádio ao Brasil, em 1922, veio abrir um enorme espaço no que diz respeito à ocupação de mão-de-obra. Não uma mão de obra especializada, naturalmente, porque o ramo era inteiramente novo no País, passando a absorver apenas o trabalho daqueles que, por vocação nata ou talvez inspirados nos exemplos exteriores, demonstraram capacidade real para assumir as mais diversas funções na radiofonia nascente.

Eram, na época, todos eles amadores, e que emprestavam seus esforços com muita ênfase à carreira que abraçavam, no intuito de agradar seu público ouvinte, praticando um rádio sadio, bem humorado e, na maioria das vezes dedicando-se aos programas musicais e informativos, muito longe dos sofisticados recursos de que dispomos atualmente.

A esses bravos pioneiros convencionou-se chamar de Radialistas - uma palavra nova integrada, então, aos textos dos dicionários.

Nos grandes centros, os jovens dotados de boa voz e dicção apropriada à nova atividade, lutavam por um lugar nas emissoras, numa competição que nem sempre lhes dava os loiros da vitória. E assim, surgiram grandes valores no rádio brasileiro. Locutores, animadores, narradores esportivos, comentaristas, noticiaristas, humoristas e técnicos de som.

Durante anos a fio, porém, não houve uma lei específica que fixasse as diretrizes patronais, empregatícias, em relação à profissão de radialista propriamente dita. Travaram-se lutas ingentes nas tribunas, nos sindicatos que aos poucos se organizavam, pelos microfones, nos congressos da classe até então desprotegida, vivendo sob o tacão dos empresários, na grande maioria gananciosos, em troca da dedicação do empregado relegado a plano secundário, escravo autêntico do dever e da profissão escolhida.

Mas, a 19 de dezembro de 1978, depois de mais um acalorado Congresso Nacional de Radialistas, o décimo, realizado em Fortaleza e do qual participamos ativamente, o então presidente da República, Ernesto Geisel, assinou o Decreto-Lei 6.615, dispondo sobre a regulamentação da profissão de radialista e dando outras providências.

Em seu Art. 7º, o diploma legal estabelece que para haver o registro do radialista é necessário: Diploma de curso superior, quando existente para as funções em que se desdobram as atividades de radialista, fornecido por escola reconhecida na forma da lei; ou diploma ou certificado correspondente às habilitações profissionais ou básicas do 2º grau, quando existentes para as funções em que se desdobram as atividades de radialistas fornecido por escola reconhecida na forma da Lei, ou: atestado de capacitação profissional conforme dispuser a regulamentação desta Lei.

Entretanto, somente em 30 de outubro de 1979, o então presidente da República, João Batista de Oliveira Figueiredo, promulgou decreto de Nº 84.134, ergulamentando a Lei anteriormente à citada.

Foi este Decreto que solidificou de vez a profissão, dando oportunidade àqueles que já militavam no Rádio antes da existência oficial da categoria, permitindo fossem considerados radialistas todos aqueles que trabalhavam em emissoras até o dia 18 de dezembro de 1978, mediante o atestado de capacitação profissional.

Daí para cá, somente atento às exigências do Art. 7º da Lei mencionada é que o cidadão pode, legalmente, ocupar qualquer função no Rádio. Essas funções chegam a um total de 26 (vinte e seis) conforme a regulamentação publicada.

Por tudo isto, o radialista profissional deve se sentir sumamente gratificado, para estar sempre presente no lar de cada pessoa que o ouve, se considerarmos sua permanente disposição, seu desembaraço constante e o desejo de servir.

É a ele que cabe a tarefa de bem informar, de divertir, de promover o entrosamento de toda a comunidade, de orientá-la através de um cuidadoso programa de utilidade pública, de promover também a expansão da cultura por intermédio de sua divulgação freqüente, de dirimir dúvidas do ouvinte, e afinal, com tudo isso dando seu entusiástico e imprescindível contributo ao desenvolvimento e progresso de sua terra!.

Este é o papel do radialista.


Alceli Sobreira

Radialista

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**Alceli Sobreira por Joaquim Muniz

Brilhante em toda a sua trajetória, inteiramente ligada à arte de comunicar e comunicar-se, sustentando sempre a bandeira da boa qualidade na programação do rádio juazeirense, Alceli, homem culto, poliglota, atualizadíssimo com os acontecimentos do mundo, através do próprio rádio, da televisão e dos jornais, pois acompanhava tudo isso diariamente, era verdadeiramente uma enciclopédia do conhecimento.Iniciou trabalhando no Centro Regional de Publicidade. Depois ingressou na Rádio Iracema. Ali foi locutor, redator, noticiarista, cronista e disck jockey, tudo com extraordinário sucesso.Foi também jornalista, um dos poucos na região com registro no Ministério do Trabalho. Participou com os seus instrutivos artigos de muitos jornais locais e chegou a escrever alguns livros, como: Folhas ao Vento e Breve História da Radiofonia e do Jornalismo no Rádio.Nos últimos anos, afastado das atividades, principalmente no rádio, o Alceli que no passado enfrentou numerosas platéias, pois era sim um mestre de cerimoniais de mão cheia, tornou-se muito emotivo, a ponto de ir as lágrimas, quando recebia uma homenagem.Em todo este período do seu afastamento, o nosso grande “Bom Bom” foi muito procurado por companheiros para resolverem dúvidas nos mais diferentes trabalhos. E ele prontamente os atendia orientando para uma maior qualidade técnica do trabalho, assim como faz costumeiramente o radialista João Hilário. Hoje queremos registrar os nossos melhores agradecimentos, pelos muitos ensinamentos que recebemos do muito sábio Bom Bom, exemplo de ética e técnica profissional, que foi correndo abraçar os seus amigos, Coelho Alves, Maciel Silva, João Eudes e tantos outros.

ALCELI SOBREIRA, O ANIMADOR E APRESENTADOR

Aqui, o nosso radialista aparece fazendo a presentação da banda "Os Barulhentos" e animando a platéia da quadra João Cornélio na cidade de Juazeiro do Norte/Ce no ano de 1969.

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ALCELI SOBREIRA, O POETA

MENINA MOÇA

(À minha neta Thaize)

Diviso em teu semblante uma promessa
Neste olhar meigo e doce uma esperança
Que nem o meu pensamento confessa
Com medo de perder a temperança
Sensualidade juvenil como essa
Inexiste em minha fugaz lembrança
Que parece não ter pressa
Pra merecer por fim tua confiança

Com esse teu jeito tão delicado
Tu, graciosa e gentil na puberdade
Sorrindo ou falando em tom recatado
Traduzes sem a menor veleidade
Todo um futuro por ti almejado
De muito amor, paz e felicidade...

(Alceli Sobreira)

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LIÇÃO DE SOLIDARIEDADE

Sonhar não é o bastante. Bom mesmo é trabalhar sempre para ser o melhor. Ser o melhor não é o bastante. Bom mesmo é pensar no amanhã. Ter fé no amanhã não é o bastante. Bom mesmo é ser humilde com os menos favorecidos e ter altivez com os grandes. Ser grande não é o bastante. Bom mesmo é ser terno e amoroso em tudo que se faça. Ser terno não é o bastante. Bom mesmo é ter-se o objetivo maior cravado no peito sem sentir dor alguma. Não sentir dor alguma não é o bastante. Bom mesmo é ter solidariedade, bom senso e espírito de vitória. Ser vitorioso não é o bastante. Bom mesmo é ser despreendido de coisas miúdas. Bom mesmo é ser o melhor, pensar no amanhã, ser humilde, ser altivo, ser grande, ser terno, ser amoroso, ser objetivo, ser vitorioso. Mas nada disso terá qualquer valor se não for dividido solidariamente entre as pessoas que nos cercam.

Alceli Sobreira

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QUANDO

Quando desejares um pouco de alento, em momentos de incertezas e indecisão que te possam causar mal, por menor que seja, pensa em mim, que te mostrarei o norte para que saibas o caminho a seguir, mesmo sozinha quando estiveres sozinha, em meio as adversidades da vida,aflita e sem ânimo, sem conforto de pelo menos uma palavra amiga, pensa em mim que tanto te quero e adoro, com muito amor. Quando te sentires oprimida por alguém ou depressiva por algum motivo, pensa em mim! A energia positiva que carrego dentro de mim há de reerguer o teu estado d´alma e colocar-te no ponto ideal de conformação quando pensares que nada mais resta fazer para alcançara felicidade que almejas, pensa em mim que tenho tanto a dar-te que somente desejo em troca o teu sorriso franco, o teu olhar sereno e tua voz...Quando quiserdes uma tênue luz no fim do túnel, que possa iluminar o teu caminho, evitando os percalços de uma jornada cheia de perigos que possam te ferir, pensa em mim que serei o teu farol e guia,pelo resto da vida...

Alceli Sobreira

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DESABAFO

Há quem me censure porque componho versos
Há quem se delicie com tudo o que faço.
Há quem não goste de meus verbetes dispersos.
Há quem adore sem fazer estardalhaço.

Cumpro essa sina sem ligar para os perversos.
Cumpro essa sina que não me causa embaraço,
mesmo sabendo de conceitos adversos,
mesmo sabendo que em breve virá o cansaço.

Escrevo sempre. De manhã, à noite, à tarde.
E tudo aquilo que escrevo me locupleta,
sem que disso nunca eu faça qualquer alarde.

Meus versos são compostos de forma direta.
Frutos duma inspiração que em meu peito arde.
Enfim, louvo ao meu Senhor que me fez poeta!...

Alceli Sobreira

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APELO DA INOCÊNCIA
(Para minha filha Aline)

Era uma tarde clara de verão.
O pai, falando em tom exaltado,
Diz que já não suporta a situação:
“Vou embora! Já está tudo acertado!”

Faz as malas com precipitação,
Vê a filha caçula, aflita, ao lado,
Olhar súplice. Com toda emoção,
Sentindo o coração despedaçado,
Aproxima-se para a despedida,
Olhos marejados, a vista ardendo.
Dá-lhe a bênção, a voz embevecida.

Sem acreditar no que estava vendo,
Ela fala baixinho, enternecida:
“Painho, não vai não que está chovendo”

Alceli Sobreira

******* O PALHAÇO

Foi-se a esperança que eu tinha na vida,
de só uma vez, pelo menos, ver-te.
Hoje resta uma saudade dorida
pois, pensei que nunca iria perder-te.

Como um palhaço que preza sua lida,
volto ao trabalho, tentando esquecer-te,
com a angústia doendo n´alma ferida,
certo de que jamais irei rever-te.

Com incontida emoção, em cena adentro,
tento falar, não consigo, porquanto
quase esquecido de que eu era o centro.

E logo me vi pra meu próprio espanto,
rindo por fora, chorando por dentro,
em plena ribalta, escondendo o pranto!...

Alceli Sobreira

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O REENCONTRO

Alguns anos distantes, já bem distantes

de um primeiro encontro quase furtivo,

cheios de surpresas irrelevantes

guardados na memória, qual arquivo,

num salão de festas, bela como antes,

sem demonstrar comportamento esquivo

e a prescrutar-me com olhos brilhantes,

sentou-se ao meu lado com gesto altivo.

Falou, falou, falou e eu recatado

com tal tranquilidade e destemor

a ponto de ficar embasbacado.

Mais que uma confissão, com muito ardor,

do que no coração tinha guardado,

me fez uma declaração de amor...

Alceli Sobreira